Por Walter Paneque, do Muralha Amarela
Nesta quarta-feira, o Borussia Dortmund confirmou algo que já era esperado: Mkhitaryan não viaja com o time para o Azerbaijão para o jogo contra o Qabala. Para evitar um conflito diplomático, o camisa 10 fica na Alemanha e não poderá ajudar a equipe nesta 3ª rodada da Europa League.
Quando foram sorteados os grupos da Europa League e o Dortmund soube que teria que fazer esta viagem, o clube disse que acionaria a FIFA, mas parece que não teve uma boa resposta. Hans-Joachim Watzke negou que o clube tenha sido aconselhado a deixar Mkhitaryan na Alemanha, mas afirmou que “se fosse uma semifinal, a decisão seria outra”.
Mas afinal: por que essa situação é tão delicada? A seguir, um resumo da história do conflito e por que o Borussia Dortmund decidiu não se colocar no meio desse conflito diplomático entre armênios e azeris.
O motivo do conflito: para os armênios, o território de Artsakh (atual Nagorno-Karabakh) é considerado a décima província do país. Segundo a história armênia, no século V a primeira escola do país foi construída nessa região e estudos mostram que foi neste local que Mesrop Mashtots – líder religioso e militar do país do século I – criou o alfabeto armênio. Na história contada pelos azeris, o território pertence desde o século IV A.C. ao antigo estado do Azerbaijão do Norte. Autoridades locais garantem que sua soberania é legítima porque o local foi ocupado há milhares de anos por albaneses e turcos, seguidos por outros príncipes locais e o líder Hassan-Jalal. Historiadores apontam o conflito como a resistência religiosa mais antiga do mundo.
Poucos anos depois da 1ª Guerra Mundial, as recém-formadas repúblicas da Armênia e Azerbaijão começaram a contestar a região. Em 1924 o governo soviético determinou que a área fosse decretada região autônoma, mas sob a jurisdição do Azerbaijão. Na época, 94,4% dos habitantes eram armênios.
O início da guerra: com o passar dos anos e crescente dominação azeri, a população armênia foi diminuindo e sendo cada vez mais discriminada pelo governo do Azerbaijão. Quando o governo impôs limitações ao ensino da língua e cultura armênia, optou-se não por aprender língua e cultura azeri, mas aprender o idioma russo.
O alinhamento foi seguido de maior aproximação entre os países, até que intelectuais armênios pediram ajuda a Moscou para reaver o território que julgavam ser de seu país. Em 1988 tiveram início os ataques e represálias, quando os armênios contaram com a ajuda de Mikhail Gorbatchev para se rebelar aos azeris e assumir o controle da região.
O cessar fogo: muito sangue foi derramado até que em 1992 os armênios declarassem a independência do território de Nagorno-Karabakh. Estima-se que pelo menos 30 mil pessoas morreram durante os confrontos, entre 1988 e 1994, quando Armênia e Azerbaijão concordaram em cessar fogo. No entanto, nunca foi assinado um tratado de paz entre os países, fazendo com que a região mantenha há mais de 20 anos a tensão e risco iminente de novo conflito armado.
Desde então, todos os armênios são considerados persona non grata no Azerbaijão e o governo local não concede vistos a quem deseja ingressar no país. E aqui voltamos ao jogo do Borussia Dortmund: o clube indicou que poderia ter pedido à FIFA que o visto fosse concedido, mas a insegurança e risco de um desastre diplomático fizeram com que a ideia não tenha sido levada adiante.
Nesta temporada, Mkhitaryan é o segundo jogador que mais participou de gols do Borussia Dortmund, atrás apenas de Aubameyang. Contando Bundesliga, DFB-Pokal e Europa League, o meia marcou 10 gols e deu 8 assistências. Tem jogado muito nos últimos meses e não vale o risco de ir parar na cadeia, por isso é melhor mesmo ter ficado em casa. Mas se alguém tiver afim de deixar o Ramos por lá, bem, acho que podemos conversar. (Fonte espnfc.espn.uol )