Alguns dos atletas que representarão o país na Olimpíada do ano que vem possuem histórias curiosas, mas todos com um caso de amor com a nação verde-amarela
DANIEL OTTONI
@SUPER_FC
A paixão instantânea que muitos estrangeiros sentem pelo Brasil, assim como a vontade de permanecer no país por mais tempo, se concretizou para alguns afortunados, que tiveram o esporte como motivo para uma permanência definitiva. O país conta com alguns exemplos de atletas que gostaram tanto do país, e se identificaram bastante com a cultura e as pessoas, que a presença de transformou em naturalização, que atingirá seu ponto alto no ano que vem, com a participação de alguns deles na Olimpíada do Rio de Janeiro.
Enquanto alguns ainda buscam a confirmação da cidadania, enfrentando um longo processo burocrático, outros já passaram por esta fase complicada, que coloca em dúvida a presença no maior evento esportivo do mundo. Boa parte dos casos de estrangeiros que irão defender o Brasil aparecerem em modalidades que, por aqui, ainda são carentes de ídolos, caso do tênis de mesa, da luta greco-romana, do rugby e do polo aquático.
Entre os esportes de maior expressão, o basquete conta com um representante de fora do país, o ala norte-americano Larry Taylor, que chegou ao Brasil em 2008 e naturalizou-se em 2012 para jogar a Olimpíada de Londres. “Quando eu vim para o Brasil, isso não passava pela minha cabeça. Foi uma surpresa. O sonho de qualquer atleta é participar de uma edição de Jogos Olímpico se não vejo nada de mal em aproveitar uma oportunidade como esta para realizar um desejo profissional”, comenta o atleta.
Destino. Histórias de vida e casos curiosos não faltam para alguns deles, que tiveram no Brasil a chance de mudar de vida e estar entre os melhores do mundo, visto que a concorrência em seu país de origem seria bem mais acirrada. A chinesa Gui Lin, do tênis de mesa, veio para o Brasil aos 11 anos para participar de um intercâmbio esportivo. O que era para ser uma experiência de algumas semanas tornou-se na ‘contratação’ de um grande nome para a modalidade.
“Eu tinha a curiosidade de conhecer como era o tênis de mesa fora da China. Acabei gostando e decidir ficar. É difícil explicar o sentimento, mas eu realmente gostei desse país que me acolheu”, admite a atleta de 21 anos, que defende o São Bernardo/ASA/Palmeiras desde então. Seu treinador é Hugo Hoyama, maior atleta brasileiro da modalidade em todos os tempos. “Consegui a naturalização para trazer melhores resultados para o Brasil e ter essa oportunidade de viver aqui e buscar meu sonho”, relata.
Quem também já se sente um brasileiro por completo, mas ainda precisa do passaporte para deixar qualquer dúvida para trás é o armênio Eduard Soghomonyan, de 25 anos, desde os 22 no Brasil. Ele chegou ao país depois de conhecer um brasileiro em seu país natal.
“A família dele é de lá. Recebi o convite para passar um tempo no Brasil e conhecer o jiu-jitsu, esporte que ele pratica. Comecei a treinar, a fazer musculação e fui ficando. Os amigos que fiz me incentivaram a lutar e acabei conhecendo o presidente da Federação Paulista. Ganhei minha primeira luta e recebi o convite. Pensei: por que não?”, lembra Eduard, que já consegue se expressar em português. “A luta greco-romana na Armênia é como o futebol no Brasil. Lá a concorrência seria grande, meu maior adversário na categoria é tetracampeão europeu e medalhista olímpico. O Brasil me deu esta chance e não pensei muito para aceitar”, comenta.
Que ajuda! Eduard foi além de conseguir ficar próximo de uma vaga olímpica. Ele ajudou o Brasil a subir de patamar na modalidade. “Na luta greco-romana, você precisa de um companheiro de treino. Na categoria 98kg, o Brasil não tem muitos atletas e o Davi Albino evoluiu muito depois que cheguei. Acho que tive uma parcela de contribuição no seu crescimento, assim como o trabalho do técnico dele e da Federação”, mostra o armênio, lembrando da medalha de prata que Davi conquistou no Pan-Americano da modalidade, em junho deste ano, no Chile. O resultado o garantiu como único representante brasileiro no Pan-Americano de Torono, no mês que vem. Na categoria até 71kg, Gil Leon faturou o bronze. Outro nome do país que caminha para novos resultados de destaque é Aline Silva, vice-campeã mundial.
“O Brasil vem crescendo, mas ainda está longe de outros países de tradição como Armênia, Rússia e Irã. Temos uma base para evoluir, acredito ser possível duas ou três medalhas na Olimpíada. Quem trabalha, não fica sem resultado, acredito muito nisso”, projeta Eduard.
Barreiras. Boa parte dos atletas gringos que se naturalizaram brasileiros tiveram que enfrentar dificuldades além da burocracia. Muitas críticas apareceram sobre eles, que precisaram ter paciência para mostrar seu talento, deixando claro que não tinham a intenção de tomar o lugar de nenhum companheiro de profissão.
“Algumas pessoas não gostaram quando eu comecei a jogar pelo Brasil. Outras foram a favor. Na verdade, o que importou de verdade para mim foi ser recebido de braços abertos pelos colegas de time. Sou brasileiro e tenho o passaporte para provar isso”, afirma o ala Larry Taylor, que atua no basquete brasileiro desde 2008.
Depois de já ter representado o país e estar na briga pela presença na Olimpíada dentro de casa, empecilhos menores são encarados, como cantar o hino. “Ele inteiro ainda não decorei. Até agora, sei cantar somente a metade, mas ainda chego lá”, descontrai o norte-americano de nascimento.
A chinesa Gui Lin também teve enfrentou restrições, mas dentro da modalidade. Toshio Takeda, pai e treinador de Jessica Yamada, uma de suas principais concorrentes, contestaram a convocação de Lin para a seleção ainda em 2012, alegando que ela não havia participar do ciclo olímpico. Passada a turbulência, a
asiática garante que está muito bem adaptada à cultura tupiniquim. “Sou uma brasileira. Gosto de comida brasileira, sei cantar o hino e até sertanejo. Tenho amigos de verdade, o pessoal do meu clube me recebeu com muito carinho desde a minha chegada. Sempre me apoiaram e acreditaram no meu trabalho”, comemora.
Brasileiros que vem de fora
Gui Lin – China – tênis de mesa. Veio para o Brasil com 11 anos em um intercâmbio esportivo. Participou da Olimpíada de Londres, em 2012.
Eduard Soghomonyan – Armênia – luta greco romana – conheceu brasileiro com familiares armênios na sua terra natal. Recebeu convite para conhecer o país e ficou de vez. Ainda aguarda pelo passaporte brasileiro.
Marat Garipov – Cazaquistão – luta greco-romana – assim como Eduard, tem permissão para participar de torneios dentro do Brasil, mas ainda não tem processo de naturalização concluído para disputar competições como Pan e Olimpíada.
Ives González Alonso – Cuba – polo aquático – no Brasil há quatro anos, é casado com brasileira e já defende a seleção brasileira Felipe Perrone – Espanha – polo aquático – melhor jogador da última Liga dos Campeões da Europa. Neto de espanhola. Já defende a seleção brasileira.
Paulo Salemi – Itália – polo aquático – neto de brasileiros. Já defende a seleção brasileira.
Ádrian Delgado – Espanha – polo aquático – espanhol filho de brasileiro. Já defende a seleção brasileira.
Leal – Cuba – vôlei – ponta do Sada Cruzeiro parte para sua quarta temporada no time celeste. Pedido de residência fixa já foi aprovado, vai entrar com documentação para cidadania em breve.
Fernando Meligeni – Argentina – tênis – Foi o primeiro estrangeiro naturalizado brasileiro a disputar uma Olimpíada com a bandeira brasileira. Veio para o Brasil com quatro anos de vida. Defendeu o Brasil na Olimpíada de Atlanta, em 1996, quando ficou em quarto lugar, melhor resultado de um brasileiro na modalidade em Olimpíada.
Juliano Fiori – Grã Bretanha – rugby – começou a jogar pelo Brasil depois que o pai abordou membros da seleção no aeroporto de Guarulhos. Recebeu convite para testes, substitui atleta contundido e permaneceu desde então. (Fonte portal otempo.com.br)