Por: Bruno Bonsanti
Do ponto de vista técnico, o Borussia Dortmund pode comemorar o sorteio de grupos da Liga Europa. Está no Grupo C ao lado do Paok (GRE), do Krasnodar (RUS) e do Qäbälä (AZE) e deve passar de fase sem grandes problemas. Por outro lado, essa chave criou um impasse geopolítico porque um dos principais jogadores do clube alemão é o armênio Henrikh Mkhitaryan, e sua viagem para o Azerbaijão está em xeque por causa das relações diplomáticas quase inexistentes entre a Armênia e o governo azeri.
Independentes, ou seja, quando não faziam parte da União Soviética, os dois países tiveram apenas breves períodos de amizade. Entre 1988 e 1994, às vésperas da queda do Muro de Berlim e da derrota dos soviéticos, entraram em conflito por causa de Nagorno-Karabakh, que oficialmente faz parte do território do Azerbaijão, mas se tornou independente e tem população majoritariamente armênia. Tecnicamente, as duas nações ainda estão em guerra e não há relacionamento diplomático. Por isso, o Azerbaijão costuma recusar a emissão de visto para armênios.
A situação fica ainda pior se o cidadão em questão tiver visitado Nagorno-Karabakh, como mostra um aviso no site da embaixada do Azerbeijão na Romênia: “Esses cidadãos são incluídos em uma lista de ‘persona non grata’, cuja entrada no território da República do Azerbaijão é proibida”. Sim, caso você já esteja se perguntando, Mkhitaryan visitou a região três vezes. “Queríamos ajudar a Armênia e a República de Nagorno-Karabakh, as famílias dos soldados da liberdade, para ser mais exato, porque acho que precisam dessa iniciativa”, disse, em 2010, quando foi à região no Natal entregar presentes.
Tudo isso veio à tona logo depois do sorteio dos grupos, quando ficou claro que Mkhitaryan teria que visitar o Azerbaijão para defender o Borussia Dortmund. A imprensa dos dois países começaram a questionar se seria permitida a presença de uma das figuras públicas mais conhecidas da Armênia no Azerbaijão. Em entrevista ao site alemão SPORT1, o porta-voz do Dortmund, Sascha Fligge disse que torce para que Mkhitaryan não seja proibido de jogar. “No momento, Henrikh é um jogador super importante para nós, com exibições brilhantes nas últimas semanas”, disse.
É verdade. MKhitaryan marcou oito vezes e deu seis assistências nas primeiras sete partidas da temporada e sem dúvida qualifica-se como um dos principais jogadores do time. Vale ressaltar que um visto especial para missões diplomáticas, culturais ou para jogador de futebol não é algo tão raro assim. Por exemplo, no começo do mês, Israel permitiu que um clube da Faixa de Gaza passasse por território israelense para enfrentar outro na Cisjordânia, e vice-versa, embora nem tudo tenha corrido bem.
Não se sabe o que o governo do Azerbaijão fará no caso de Mkhitaryan, um jogador de futebol de renome internacional. Mas seria uma pena se tivesse que ficar em casa enquanto seus companheiros viajam para enfrentar o Qäbälä. Para o Borussia Dortmund e para a liberdade. (Fonte trivela.uol)